"...
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada-
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser..."
Álvaro de Campos.
Poesia de Álvaro de Campos, página 453 (trecho), Editora Martin Claret, 2006.
sexta-feira, 31 de agosto de 2012
quarta-feira, 29 de agosto de 2012
Eu lembro agora como fosse nunca, tudo ou mais
Eu acordo e te vejo passando pela porta do quarto
Eu lembro do teu resto e o teu rosto não importa
A tua foto na parede não me impressiona tanto quanto os teus movimentos
A tua presença
A vertigem.
O desejo vive a minha porta esperando
Eu quero abrí-la
E que você venha.
Eu acordo e te vejo passando pela porta do quarto
Eu lembro do teu resto e o teu rosto não importa
A tua foto na parede não me impressiona tanto quanto os teus movimentos
A tua presença
A vertigem.
O desejo vive a minha porta esperando
Eu quero abrí-la
E que você venha.
segunda-feira, 27 de agosto de 2012
"Começo a conhecer-me. Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
Ou metade desse intervalo, porque também há vida...
Sou isso, enfim...
Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor.
Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.
É um universo barato."
Álvaro de Campos.
Poesia de Álvaro de Campos, página 370, Editora Martin Claret, 2006.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
Ou metade desse intervalo, porque também há vida...
Sou isso, enfim...
Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor.
Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.
É um universo barato."
Álvaro de Campos.
Poesia de Álvaro de Campos, página 370, Editora Martin Claret, 2006.
domingo, 26 de agosto de 2012
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
Reflexão nº1
"Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho
Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio
Nem ama duas vezes a mesma mulher.
Deus de onde tudo deriva
É a circulação e o movimento infinito.
Ainda não estamos habituados com o mundo
Nascer é muito comprido."
Murilo Mendes
Antologia poética, página 34, Editora Fontana, 1976.
Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio
Nem ama duas vezes a mesma mulher.
Deus de onde tudo deriva
É a circulação e o movimento infinito.
Ainda não estamos habituados com o mundo
Nascer é muito comprido."
Murilo Mendes
Antologia poética, página 34, Editora Fontana, 1976.
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
Alta tensão
"eu gosto dos venenos mais lentos
dos cafés mais amargos
das bebidas mais fortes
e tenho
apetites vorazes
uns rapazes
que vejo passar
eu sonho
os desejos mais soltos
e os gestos mais loucos
que há
e sinto
uns desejos vulgares
navegar por uns mares
de lá
você pode me empurrar pro precipício
não me importo com isso
eu adoro voar."
Bruna Lombardi
O perigo do dragão, página 40, Editora Record, 1985.
dos cafés mais amargos
das bebidas mais fortes
e tenho
apetites vorazes
uns rapazes
que vejo passar
eu sonho
os desejos mais soltos
e os gestos mais loucos
que há
e sinto
uns desejos vulgares
navegar por uns mares
de lá
você pode me empurrar pro precipício
não me importo com isso
eu adoro voar."
Bruna Lombardi
O perigo do dragão, página 40, Editora Record, 1985.
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
Estrambote melancólico
"Tenho saudade de mim mesmo,
saudade sob aparência de remorso,
de tanto que não fui, a sós, a esmo,
e de minha alta ausência ao meu redor.
Tenho horror, tenho pena de mim mesmo
e tenho muitos outros sentimentos
violentos. Mas se esquivam no inventário,
e meu amor é triste como é vário,
e sendo vário é um só. Tenho carinho
por toda perda minha na corrente
que de mortos a vivos me carreia
e a mortos restitui o que era deles
mas em mim se guardava. A estrela-d'alva
penetra longamente seu espinho
(e cinco espinhos são) na minha mão."
Carlos Drummond de Andrade.
Literatura comentada, página 96, Editora Nova Cultural Ltda., 1990.
saudade sob aparência de remorso,
de tanto que não fui, a sós, a esmo,
e de minha alta ausência ao meu redor.
Tenho horror, tenho pena de mim mesmo
e tenho muitos outros sentimentos
violentos. Mas se esquivam no inventário,
e meu amor é triste como é vário,
e sendo vário é um só. Tenho carinho
por toda perda minha na corrente
que de mortos a vivos me carreia
e a mortos restitui o que era deles
mas em mim se guardava. A estrela-d'alva
penetra longamente seu espinho
(e cinco espinhos são) na minha mão."
Carlos Drummond de Andrade.
Literatura comentada, página 96, Editora Nova Cultural Ltda., 1990.
terça-feira, 21 de agosto de 2012
Desenho
"Traça a reta e a curva,
a quebrada e a sinuosa
Tudo é preciso.
De tudo viverás.
Cuida com exatidão da perpendicular
e das paralelas perfeitas.
Com apurado rigor.
Sem esquadro, sem nível, sem fio de prumo,
traçarás perspectivas, projetarás estruturas.
Número, ritmo, distância, dimensão.
Tens os teus olhos, o teu pulso, a tua memória.
Construirás os labirintos impermanentes
que sucessivamente habitarás.
Todos os dias estarás refazendo o teu desenho.
Não te fatigues logo. Tens trabalho para toda a vida.
E nem para teu sepulcro terás a medida certa.
Somos sempre um pouco menos do que pensávamos.
Raramente um pouco mais."
Cecília Meireles, 1963.
Os melhores poemas, página 182, Global editora e distribuidora, 1984.
a quebrada e a sinuosa
Tudo é preciso.
De tudo viverás.
Cuida com exatidão da perpendicular
e das paralelas perfeitas.
Com apurado rigor.
Sem esquadro, sem nível, sem fio de prumo,
traçarás perspectivas, projetarás estruturas.
Número, ritmo, distância, dimensão.
Tens os teus olhos, o teu pulso, a tua memória.
Construirás os labirintos impermanentes
que sucessivamente habitarás.
Todos os dias estarás refazendo o teu desenho.
Não te fatigues logo. Tens trabalho para toda a vida.
E nem para teu sepulcro terás a medida certa.
Somos sempre um pouco menos do que pensávamos.
Raramente um pouco mais."
Cecília Meireles, 1963.
Os melhores poemas, página 182, Global editora e distribuidora, 1984.
segunda-feira, 20 de agosto de 2012
"de todos os versos de amor
as rimas e frases reinventadas
as jogadas de efeito
os subterfúgios e os hai-kais
anotações de diário
de todos os nomes que dei
para crises de adolescência
e carências plagiadas
de todo o minimalismo
clichês e letras de música
de toda a minha literatura
você ainda é a melhor página"
Martha Medeiros
Poesia reunida, página 107, L&PM pocket, reimpressão de agosto de 2003.
as rimas e frases reinventadas
as jogadas de efeito
os subterfúgios e os hai-kais
anotações de diário
de todos os nomes que dei
para crises de adolescência
e carências plagiadas
de todo o minimalismo
clichês e letras de música
de toda a minha literatura
você ainda é a melhor página"
Martha Medeiros
Poesia reunida, página 107, L&PM pocket, reimpressão de agosto de 2003.
domingo, 19 de agosto de 2012
sexta-feira, 17 de agosto de 2012
tu não te moves de ti
"Para onde vão os trens meu pai?
Para Mahal, Tami, para Camiri,
espaços no mapa, e depois o pai ria:
também para lugar algum meu filho,
tu podes ir e ainda que se mova o trem
tu não te moves de ti."
Hilda Hilst.
Com os meus olhos de cão e outra novelas, página 113, Editora Brasiliense S/A, 1986.
Para Mahal, Tami, para Camiri,
espaços no mapa, e depois o pai ria:
também para lugar algum meu filho,
tu podes ir e ainda que se mova o trem
tu não te moves de ti."
Hilda Hilst.
Com os meus olhos de cão e outra novelas, página 113, Editora Brasiliense S/A, 1986.
quinta-feira, 16 de agosto de 2012
Saudade
"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida."
Clarice Lispector.
A descoberta do mundo, página 105, Livraria Francisco Alves Editora S/A, 1992.
Clarice Lispector.
A descoberta do mundo, página 105, Livraria Francisco Alves Editora S/A, 1992.
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
aliança
"De alguma maneira hoje
quero casar com você...
para mim este amor é diferente
não é de papel passado,
é amor de papel presente."
Elisa Lucinda.
A fúria da beleza, página 75, Editora Record, 2006.
quero casar com você...
para mim este amor é diferente
não é de papel passado,
é amor de papel presente."
Elisa Lucinda.
A fúria da beleza, página 75, Editora Record, 2006.
domingo, 12 de agosto de 2012
quinta-feira, 9 de agosto de 2012
O verbo no infinito
"Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne e a carne em amor; nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar
Para poder nutrir-se; e despertar
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar.
E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito
E esquecer tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
e ir conjugar o verbo no infinito..."
Vinicius de Moraes.
Meu tempo é quando, página 9, Fundação Banco do Brasil, 1990.
O amor em carne e a carne em amor; nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar
Para poder nutrir-se; e despertar
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar.
E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito
E esquecer tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
e ir conjugar o verbo no infinito..."
Vinicius de Moraes.
Meu tempo é quando, página 9, Fundação Banco do Brasil, 1990.
segunda-feira, 6 de agosto de 2012
Jogo
"Cara ou coroa?
Deus ou o demônio
O amor ou o abandono
Atividade ou solidão.
Abre-se a mão, coroa
Deus e o demônio
O amor e o abandono
Atividade e solidão."
Murilo Mendes
Antologia poética, página 41, Editora Fontana, 1976.
Deus ou o demônio
O amor ou o abandono
Atividade ou solidão.
Abre-se a mão, coroa
Deus e o demônio
O amor e o abandono
Atividade e solidão."
Murilo Mendes
Antologia poética, página 41, Editora Fontana, 1976.
domingo, 5 de agosto de 2012
Poética (II)
"Com as lágrimas do tempo
E a cal do meu dia
Eu fiz o cimento
Da minha poesia.
E na perspectiva
Da vida futura
Ergui em carne viva
Sua arquitetura.
Não sei bem se é casa
Se é torre ou se é templo
(Um templo sem Deus.)
Mas é grande e clara
Pertence ao seu tempo
- Entrai, irmãos meus!"
Vinicius de Moraes.
Meu tempo é quando, página 36, Fundação Banco do Brasil, 1990.
E a cal do meu dia
Eu fiz o cimento
Da minha poesia.
E na perspectiva
Da vida futura
Ergui em carne viva
Sua arquitetura.
Não sei bem se é casa
Se é torre ou se é templo
(Um templo sem Deus.)
Mas é grande e clara
Pertence ao seu tempo
- Entrai, irmãos meus!"
Vinicius de Moraes.
Meu tempo é quando, página 36, Fundação Banco do Brasil, 1990.
sexta-feira, 3 de agosto de 2012
Cio
"Quero dormir com você ou pelo menos
te dar um beijo na boca
o meu amor não tem pudor, nem acanhamento
não tem paciência, não aguenta mais
a urgência do desejo
e eu te olho, te olho, te olho
como se dissesse.
Penso ele há de perceber, me encosto um pouco
espero um gesto, um sinal, uma atitude
que eu possa interpretar como resposta
uma indicação
mas você é um homem sério e continua
se escondendo atrás dessas teorias
e nem te brilha no olho uma faísca de tentação.
ai, que aflição
pensar no que eu faria
se pudesse
desejo que não acontece
fica parado no peito
ai, vira obsessão."
Bruna Lombardi
O perigo do dragão, página 32, Editora Record, 1985.
te dar um beijo na boca
o meu amor não tem pudor, nem acanhamento
não tem paciência, não aguenta mais
a urgência do desejo
e eu te olho, te olho, te olho
como se dissesse.
Penso ele há de perceber, me encosto um pouco
espero um gesto, um sinal, uma atitude
que eu possa interpretar como resposta
uma indicação
mas você é um homem sério e continua
se escondendo atrás dessas teorias
e nem te brilha no olho uma faísca de tentação.
ai, que aflição
pensar no que eu faria
se pudesse
desejo que não acontece
fica parado no peito
ai, vira obsessão."
Bruna Lombardi
O perigo do dragão, página 32, Editora Record, 1985.
quinta-feira, 2 de agosto de 2012
Amor - Vida
"Vivi entre os homens
Que não me viram, não me ouviram
Nem me consolaram.
Eu fui o poeta que distribui seus dons
E que não recebe coisa alguma.
Fui envolvido na tempestade do amor,
Tive que amar até antes do meu nascimento.
Amor, palavra que funda e que consome os seres.
Fogo, fogo do inferno: melhor que o céu."
Murilo Mendes
Antologia poética, página 43, Editora Fontana, 1976.
Que não me viram, não me ouviram
Nem me consolaram.
Eu fui o poeta que distribui seus dons
E que não recebe coisa alguma.
Fui envolvido na tempestade do amor,
Tive que amar até antes do meu nascimento.
Amor, palavra que funda e que consome os seres.
Fogo, fogo do inferno: melhor que o céu."
Murilo Mendes
Antologia poética, página 43, Editora Fontana, 1976.
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